Drama Queen


Há muito tempo atrás eu li no livro Ilusões do Richard Bach, que nossa vida é como um filme em cartaz no cinema, quando escolhemos ver um filme, nós sabemos de antemão ou temos uma breve idéia do que se trata, mais ou menos como a sinopse à nossa disposição no controle da tv a cabo.

Eu posso dizer que isso se aplica a quase tudo na nossa vida, aos relacionamentos, na escolha de um emprego, de um namorado mas não para filhos.

Nada na vida nos prepara para a rotina com um bebê, totalmente imprevísivel, a minha filha acorda diferente todos os dias, com um novo jeito de sorrir, descobrindo o pézinho, não querendo mais o colo, querendo pegar no sono sozinha no berço, nos sons que ela emite, é um ano novo todos os dias.

Hoje me peguei olhando para ela e pensando que um dia eu já fui um bebê, parece uma afirmação idiota mas nos esquecemos disto, eu já fui este serzinho maravilhoso e maravilhado com o mundo, este ser que acorda sorrindo no meio da noite com seus olhinhos a me fitar e apenas querendo meu colo, este ser que escaneia a alma da gente, que olha tudo repetidas vezes com o mesmo entusiasmo, que chora um choro sincero e puro, que dorme um sono cândido, que deita e dorme, não fica remoendo, não range os dentes, não sente um frio na espinha ao pensar nos arrependimentos da vida.

Eu já fui assim...já conservei a esperança, a certeza em mim de dias melhores.

Minha filha tão pequena e já me ensinando tantas lições, quero protegê-la, digo a ela a todo instante que o mundo é às vezes como ela, às vezes é como um adulto arrependido no meio da vida.

Uma vida não pode se pautar em arrependimentos, me pego pensando quando todo esse drama começou? com a perda precoce do meu pai? ou ainda antes com a perda ainda no meu nascimento da minha irmã gêmea? já fiz tanta terapia e ainda não tenho as respostas...

Lembro me da minha terapeuta em Porto Alegre, me dizendo da luz vermelha sobre nossas cabeças que deve piscar sempre antes de tomarmos uma decisão, a minha muitas vezes não piscou, ficou desligada um tempão e eu tomei decisões muito erradas...não posso voltar...só posso avançar e me tornar um exemplo para este ser que dorme no meio tarde em seu bercinho...

Me sinto como a Dama de Copas do livro o Dia do Coringa...uma carta como tantas outras no baralho da vida.